Nos últimos dias, muita gente ficou confusa com as notícias sobre o FDA atualizar a rotulagem (remoção de black-box warnings – avisos em destaque) de alguns tratamentos hormonais para menopausa. Afinal, isso significa que a reposição hormonal foi “liberada”? Que não causa câncer de mama? Ou que tudo mudou? A verdade é um pouco mais complexa — e é justamente por isso que vale explicar com calma.
Em novembro de 2025, o FDA revisou documentos e orientações de algumas terapias hormonais e atualizou avisos que antes eram mais alarmantes. Isso não é o mesmo que dizer que “não há risco”: significa apenas que a ciência avançou, as evidências estão mais refinadas e que os alertas antigos não se aplicam de maneira igual a todos os tipos de hormônio, todas as doses e todas as formas de uso. Na prática, é uma tentativa de deixar a informação mais precisa, menos generalizada — e isso é bom para as mulheres, desde que não gere falsas interpretações.
A grande pergunta, claro, continua sendo: “Reposição hormonal aumenta o risco para o câncer de mama?” A resposta é: depende. O risco não é igual para todo mundo, e não é igual para todos os hormônios. Em alguns estudos, a combinação de estrogênio com progestágeno, quando usada por muitos anos, mostrou aumento do risco relativo de diagnóstico de câncer de mama. Já o estrogênio isolado (em mulheres que retiraram o útero) tem um comportamento diferente. Além disso, a forma como o hormônio entra no corpo — comprimidos, adesivo, gel, via vaginal — também influencia. E, por fim, existe o fator mais importante: cada mulher é única. Idade, histórico familiar, tempo de uso e até o tipo de menopausa (natural ou induzida) fazem muita diferença.
E se a mulher já teve câncer de mama? Aqui, o cuidado é ainda maior. Em geral, evita-se a reposição hormonal sistêmica, porque os riscos podem superar os benefícios. Porém, há exceções muito específicas, quando os sintomas são intensos e outras medidas não funcionaram. Essa decisão nunca deve ser tomada sozinha: é sempre um diálogo entre mastologista, oncologista e ginecologista. Para sintomas exclusivamente vaginais — como ressecamento, ardência ou dor na relação sexual — o estrogênio vaginal de baixa dose pode ser uma opção segura para algumas mulheres, desde que acompanhado de perto.
Por outro lado, a reposição hormonal não é vilã — e para muitas mulheres, ela transforma a qualidade de vida. Fogachos que atrapalham o sono, ansiedade, irritabilidade, insônia, queda de libido, dores articulares… tudo isso pode melhorar bastante com o tratamento. Além disso, em alguns casos, a reposição ajuda a proteger a saúde óssea, reduzindo o risco de osteoporose e fraturas.
Mas como em qualquer tratamento, existem riscos. Há possibilidade de trombose dependendo da dose e da via usada, e o risco mamário, como já comentamos, varia conforme a combinação hormonal e o tempo de uso. Por isso, nada substitui uma avaliação personalizada. A melhor reposição hormonal é aquela que faz sentido para aquela mulher, naquele momento da vida, com monitorização adequada.
Uma boa conversa com seu médico pode ajudar muito. Vale perguntar: “Eu realmente preciso desse tratamento ou posso tentar outras opções antes?”; “Qual hormônio, dose e forma são mais adequados para mim?”; “Quanto tempo devo usar?”; “Como vamos acompanhar minha saúde mamária e meus exames?”. Tomar decisões informadas — com clareza e calma — é sempre o melhor caminho.
Se você já está considerando a reposição, lembre-se de dois princípios simples: usar a menor dose eficaz e pelo menor tempo necessário, e manter seus exames em dia. Nada de começar e esquecer que existe: acompanhamento é parte essencial do tratamento.
O importante é que você saiba que a conversa sobre reposição hormonal está evoluindo, baseada em ciência, e que não existe uma resposta única para todas as mulheres. O mundo está discutindo esse tema com seriedade — e, como sempre, o melhor caminho é informação de qualidade, personalizada e acompanhada de perto pelos profissionais que conhecem a sua história.
Dr. Rodrigo Campos Christo
Mastologista/Cirurgião Oncológico/Oncoplastia Mamária
Agende sua consulta:
WhatsApp (31) 3295-3949
